Pessoas andando de bicicleta pelas baias, onde outros colegas brincam com seus pets. Um grupo joga pingue-pongue no meio do expediente, enquanto uma reunião ocorre na varanda ao lado, ao ar livre e sem trajes formais. A cena, tipicamente associada às startups do Vale do Silício, tem se tornado cada vez mais comum, em maior ou menor escala, mesmo em corporações mais consolidadas no mercado. Isso porque as empresas já perceberam a importância de promover um ambiente de trabalho menos estressante e mais colaborativo. Iniciativas que primam pela qualidade dos relacionamentos e, portanto, tendem a fazer com que a companhia prospere mais.
Estudo recentemente divulgado pela Universidade de Harvard corrobora com esse conceito de “organização positiva”. Durante 75 anos, pesquisadores de uma das instituições de ensino mais renomadas do mundo acompanharam a vida de quase 700 jovens norte-americanos, com o objetivo de entender o segredo do sucesso e da felicidade. Longe de a resposta ser dinheiro e bens materiais, a pesquisa concluiu que as pessoas que viviam mais e com mais saúde eram aquelas que se relacionavam melhor com as outras.
As corporações que proporcionam mais riqueza humana aos colaboradores se tornam bem-sucedidas, pois pessoas que são reconhecidas pelas suas contribuições são mais engajadas, produtivas e colaborativas, apresentam ideias e estão mais conectadas com a empresa e sua prosperidade.
Poucas empresas no Brasil vêm implementando ações baseadas nos conceitos da psicologia sistêmica, ciência que estuda o pleno potencial humano e os aspetos virtuosos do comportamento. O grande diferencial dessa abordagem é permitir que os próprios profissionais avaliem, cotidianamente, as contribuições de seus colegas dentro de um leque de dimensões e fatores que buscam contribuir para os resultados organizacionais. E, dessa forma, fornecer dicas (feedforward) que direcionam o indivíduo a um processo de melhorias constante.
Em alternativa ao tradicional feedback anual das companhias, geralmente realizado por um superior aos seus subordinados, a avaliação pautada na psicologia sistêmica deve ser feita em todos os níveis, de colega para colega, independentemente da área. Isso é muito saudável, pois ajuda o profissional a se enxergar com os olhos dos outros e, dessa forma, entender como está contribuindo para o trabalho de todas as pessoas com as quais interage no dia a dia. A análise, dessa forma, ganha mais robustez, mediante um conceito sistêmico representado por três dimensões: ação, conexão e conhecimento.
Ferramentas que permitam o maior engajamento dos funcionários e promovam mais sinergia entre os colaboradores devem se tornar prioritárias dentro das companhias. De acordo com a consultoria McKinsey, apenas três em cada 10 funcionários se sentem 100% engajados no trabalho. Além disso, somente 21% acreditam que suas performances estão sendo bem avaliadas pelas empresas.
A gestão, no mercado de forma geral, precisa ser mais fluida e menos hierarquizada. Trabalhar com os preceitos da psicologia sistêmica, entretanto, demanda uma mudança de mindset das empresas de maneira geral e toda quebra de paradigma é complexa, mas pode trazer resultados muito relevantes.
Susana Falchi
CEO da HSD Consultoria em RH e criadora do Psit, app que mapeia percepções para autodesenvolvimento dos colaboradores